A introdução no Brasil dos equipamentos denominados tablets e a possível fabricação do iPad no Brasil geraram discussões em torno do enquadramento do equipamento nas políticas fiscais para produtos de informática: a lei que isenta os dispositivos de alguns tributos exige que ele possua um teclado, justamente o elemento que as telas de toque, com suas características interativas, trataram de eliminar.

Enquanto o governo e os ministérios responsáveis por determinar políticas de informática ainda estão na fase de revisão sobre a definição de computadores com base nos tablets, fabricantes já pensam nas próximas gerações tecnológicas que poderão provocar novas revoluções não só nesse mercado, mas em toda a linha de computadores e eletrônicos. E os protagonistas serão os displays (telas), elementos que recebem bilhões de investimentos em P&D (pesquisa e desenvolvimento) e são os grandes responsáveis por diversos avanços.

Se as primeiras telas de toque pareciam objetos de ficção científica, hoje os usuários já vislumbram displays que respondem cada vez melhor às interações humanas, com cores mais brilhantes, maiores taxas de contraste, tudo isso com menos consumo de energia.

Das muitas tecnologias que estão surgindo, é possível apontar quatro com potencial maior de causar impacto no universo da tecnologia da informação. A reportagem revela quais são esses recursos, as principais tendências relacionadas e quanto se pode esperar de evolução.

Telas multitouch
Faz mais de uma década que as telas de toque estão presentes na vida das pessoas, mas com funções limitadas, sem muitas alternativas para que os usuários interagissem com os sistemas que faziam uso dessa interface. Mas foi a partir de 2007, com o lançamento do iPhone pela Apple, que o mercado realmente decolou. As telas se multiplicaram tanto no segmento consumidor quanto no corporativo e muitos fabricantes trabalham intensamente para lançar inovações.

O segmento de multitouch explodiu em um negócio de 6 bilhões de dólares, com mais de 200 fornecedores fazendo fortes apostas. De acordo com a analista da companhia de pesquisa de mercado DisplaySearch, Jennifer Colegrove, espera-se que o mercado chegue a valer 13 bilhões de dólares até 2016.

O segmento de smartphones já é dominado pela tecnologia. Com a introdução do iPad, em 2010, chegou aos computadores tablets. A tecnologia agora está em todos os cantos, desde displays maiores de desktop, até nas centrais de entretenimento individuais, disponíveis para passageiros de avião.

Antes de a Apple surgir com o iPhone, os painéis de toque respondiam à pressão dos dedos. A Apple escolheu uma tecnologia que responde a toques leves e percebe até mesmo quando o dedo se aproxima do campo eletrônico da superfície, técnica chamada de sensor de proximidade. O painel de toque fica em cima de um display (normalmente cristal líquido).

A tecnologia requer um dedo humano para funcionar, ou canetas específicas para esse fim, para interagir com o campo elétrico. Qualquer outro objeto não interferirá na tela. Com uma superfície de vidro, o recurso oferece ainda um nível mais alto de transparência, resultando em cores mais vivas. A tela de vidro também é mais durável.

Biblioteca de gestos
A maior inovação da Apple, no entanto, foi criar maneiras de lidar com toques simultâneos, que permitiu o controle do iPhone por gestos. “Nesse caso, a inovação reside no uso que o software faz da tela de toque, algo que a Apple desenvolve muito bem”, diz o engenheiro especializado em desenvolvimento de telas de toque, Bruce Gaunt.

Mais recentemente, a Samsung teve sucesso ao integrar tecnologia multitouch com as telas de matriz-ativa de emissão de luz orgânica por diodos, mais conhecidas como AMOLED. Presente no Galaxy S, a tecnologia coloca sensores de toque diretamente na tela, sem precisar de uma camada separada, resultando em um display mais fino. “A Samsung conquistou pioneirismo nessa área, mas a corrida para mais inovações ainda está aberta”, diz a analista da empresa de análise de mercado iSuppli, Vinita Jakhanwal.

Entre as inovações desejadas, está a expansão do repertório de gestos iniciado pela Apple, permitindo, por exemplo, que o próprio usuário seja capaz de configurar funções a partir de uma biblioteca de gestos. “Seria possível, por exemplo, configurar um gesto que o levasse diretamente ao aplicativo da loja virtual preferida”, explica o estrategista tecnológico da fabricante de telas de toque Synaptics.

Algumas empresas que desenvolvem aplicativos aproveitando os potenciais do multitoque também estão se destacando. A Swype, por exemplo, criou o método de entrada no texto, arrastando os dedos pelas teclas em vez de tocar uma letra de cada vez. Outra desenvolvedora, GestureWorks, criou uma biblioteca que oferece mais de 200 gestos para desenvolvedores em linguagem Flash ou Flex.

A própria Apple se esforça em expandir as funcionalidades dos toques. A fabricante do iPad já testa funções com o uso de até cinco dedos simultâneos, embora a companhia já tenha deixado claro que não pretende levar a tecnologia para displays verticais, em desktops ou laptops.

Mesmo com todas essas possibilidades, o gerente de produtos para a área de software da HP, Ken Bosley, acredita que os novos gestos são menos universais e intuitivos que os fundamentais já popularizados no iPhone. “Eu vi uma patente recente da Apple que mais parecia uma linguagem de sinais.Por que alguém iria querer aprender um novo idioma para operar um dispositivo? As pessoas gostam de usar o padrão”, diz.

O CEO da Swype, Mike McSherry, faz coro. “Não é realista esperar que o usuário médio aprenda mais do que uma dúzia de gestos.” O executivo acredita que eles continuarão sendo usados principalmente para navegar, abrir aplicativos e coisas do gênero.

Três dimensões


Com a tecnologia capaz de detectar a proximidade dos dedos da tela de toque, as futuras telas que chegarão ao mercado poderão detectar movimentos em três dimensões, isso se os fabricantes conseguirem encontrar aplicações práticas.

Uma tecnologia do tipo poderia interpretar não só proximidade, mas movimentos no ar. Por exemplo, um usuário poderia afastar o dedo da tela e o sistema interpretaria como um comando para realizar zoom em uma imagem.

Segundo o diretor de Marketing para telas de toque da empresa Cypress Semiconductor, Trevos Davis, já há tecnologia para reconhecer diversos movimentos, como a mão se abrindo. O desafio, na verdade, é saber como interpretar gestos sofisticados como esse.

Para Hsu, o problema maior é decifrar a real intenção do usuário. Os sensores ainda não são capazes de detectar se o dedo foi colocado em determinada posição intencionalmente ou não. Assim, não dá para saber se o usuário realmente pretendia realizar uma ação.

Mesmo com as barreiras, muito dinheiro é investido em P&D com a ideia de viabilizar os sensores de proximidade para o desenvolvimento de ferramentas úteis. Não tanto nos smartphones, mas em carros, por exemplo. A meta inicial é permitir que gestos 3D sejam usados para realizar zoom em mapas, no veículo, além de movimentação de conteúdo no display com um movimento que reproduz um aceno de despedida.  O sistema ideal também seria capaz de perceber se é o passageiro ou o motorista que faz o gesto, por questões de segurança.

Tais dispositivos poderiam ser úteis também para identificar se um deles está em uma mesa, nas mãos ou no colo, ajustando assim as emissões de radiofrequência e o sistema de resfriamento de acordo com a situação.

Além da computação tradicional
Se ainda há dúvidas sobre o futuro do desenvolvimento da tecnologia, uma coisa é certa: displays multitouch transcenderão smartphones e tablets e equiparão um grande número de dispositivos e eletrônicos de consumo com os quais as pessoas poderão interagir.

“Controles multitouch já estão presentes em câmeras digitais, carros e até em eletrodomésticos”, diz a analista da iSuppli, Rhoda Alexander. A tendência é, gradualmente, chegar a todos os níveis de eletrônicos. Telas de televisão provavelmente não serão multitouch, mas os controles remotos terão algum tipo de controlador de toque, como já existem aplicativos para smartphones que têm funções parecidas. Rhoda acredita que a tecnologia está apenas em seu começo.

Telas com feedback táctil
Se os displays multitouch estão proliferando, as telas com feedback táctil estão ajudando a turbinar a tendência.

Feedback táctil oferece alguma resposta física para os dedos ou a parte do corpo que está tocando a superfície, melhorando a experiência de uso em alguns casos.

Pensando nessas vantagens, fabricantes já adotaram a tecnologia em mais de 20 modelos de smarphones, incluindo o Nokia N8 e o Galaxy S. A Display Search ainda não têm números específicos sobre o mercado para esse tipo de produto, mas acredita que os tablets se beneficiarão bem mais dessa tecnologia. O Galaxy Tab, da Samsung, já possui resposta táctil e deve ser o primeiro de uma série.

Uma aplicação prática da tecnologia, por exemplo, é a criação de teclados virtuais com mais usabilidade. “A perda de feedback táctil em teclados virtuais pode aumentar taxas de erros e frustração no usuário”, opina a analista da Frost & Sullivan, Amritha Sridharan.

E as tecnologias emergentes da área podem fazer muito mais do que vibrar para dar resposta táctil. Elas podem fazer com que a superfície pareça mais áspera, como papel reciclado, mais escorregadia ou até molhada. Criar até a sensação de que há algo se movendo embaixo do seu dedo. Graças à tecnologia, os usuários em breve terão experiências muito mais ricas do que hoje.

Atualmente, a sensação não parece ser diferente do que é: um pedaço de vidro sob o dedo.A desvantagem é que os mecanismos de resposta táctil funcionam sobre a tela touch, adicionando mais uma camada ao display e reduzindo o brilho da tela.

(Continua na próxima página >>> )

Dicas

Related Posts with Thumbnails